segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Entrevista: Guilherme Granado (Againe, Hurtmold, Bodes e Elefantes, São Paulo Underground).

Já que o Atlético decidiu estacionar na tabela, propomos uma breve pausa nas interlocuções entre a vida de repartição e o Estádio Serra Dourada e pedimos atenção para as quatro respostas do Guilherme Granado. Imerso no subterrâneo da produção independente desde os idos dos anos 90, Guilherme divide seu tempo entre o projeto solo (que, inclusive, acaba de ter um lançamento via Propósito Records), as bandas supra-citadas, e eventuais colaborações com gente como Pharoah Sanders, Dan Bitney (Tortoise) e Carlos Issa (Objeto Amarelo), entre tantos outros. Gente fina toda vida e multi-instrumentista por profissão, vira e mexe ele dá as caras aqui em Goiânia, sempre aberto e tranquilo com as pessoas, sem essa de meio-campo pra articular as ligações. Ssegue:

                                 

01.   Já te vi em ação com seu set solo, depois em parceria com o Roger Martins, outra com o Marcos Gerez e uma na dinâmica de banda, com o Bodes e Elefantes. Foram quatro ações completamente diferentes, mas (pra mim) unificadas num horizonte musical longe do “padrão” de começo-meio-fim. Partindo dessa liberdade, você considera sua música algo infinito? Existe um lugar a se chegar durante esses processos de composição (ao invés da simples reprodução) ao vivo?

Eu considero toda música, na verdade toda arte que me interessa, infinita. Mas, dito isso, contar uma história é muito importante pra mim, tanto como ouvinte e apreciador como quem produz. Pode não ser uma história contada de maneira linear, mas a história está ali, abstrata ou não. Quando componho, toco ao vivo ou improviso, a ideia é sempre manter uma ligação com o que veio antes e com o que vem depois. Nem sempre funciona, e isso é ótimo também. E, obrigado por ouvir a diferença entre cada show. Cada vez que você adiciona ou subtrai alguém em uma configuração assim, as coisas vão soar muito diferentes, mesmo.


02.   Numa entrevista recente ao blog materialmaterial, Phil Cohran, questionado sobre as relações entre música e política atualmente, diz que “a música é a única voz que as massas escutam. Se você não expressa ideias revolucionárias em sua música, as pessoas não desenvolverão uma consciência revolucionária”. Mesmo estando no “olho do furacão”, existe alguma pretensão “revolucionária” (não apenas no sentido político da palavra) nas suas expressões? 

Eu não diria que existe "pretensão" nenhuma. Mas eu tenho completa consciência que se expressar de qualquer maneira não muito convencional hoje pode ser visto como uma atitude revolucionária. Fazer esse tipo de música, compartilhar isso e ainda viver disso é uma coisa bem subversiva no mundo de hoje. Até porque, se você for olhar, tem gente de mais de 30 anos hoje em dia fazendo discos com pretensão “artística" que soam como o Balão Mágico. Eu acho que tratar o publico com o respeito devido (sou um homem de 35 anos, já vivi e senti diversas coisas e minha arte não pode se limitar a um “i love you, a vida é linda, estou tristinho, você não respondeu meu e mail") já pode ser considerado como algo revolucionário. O que na verdade é uma pena. Na minha opinião, tratar as pessoas como adultas e com respeito deveria ser o padrão, e não só na música.

                                      

03.  Três dos quatro shows que citei na primeira pergunta foram em Goiânia, em formatos bastante simples e organizados pela máxima do “faça-você-mesmo”, através da Propósito Records, selo que, inclusive, lançou recentemente um disco seu. Tendo vivenciado esse meio por tanto tempo, o que ainda hoje te atrai num processo autônomo de produção (desde shows a discos, zines, etc)? 

Eu acho ótimo lidar e trabalhar com amigos, gente que você confia e que confiam em você. Como o Ian Mackaye já disse: “confiança custa mais barato do que advogados".

04. Além de já ter tocado em banda de hardcore, to ligado que curte um Iron Maiden e um Celtic Frost era To Mega Therion. São horizontes meio opostos ao que você faz hoje (e admiro muito essa abertura), então pergunto, o que é indispensável pra sua afinidade musical? Existe um elo entre todos esses campos? De resto, valeu a paciência e disposição e fica a vontade pra deixar um recado final. 

Pra mim o elo é o som. Som é som. Simples assim. Algumas coisas me agradam mais que outras, e eu realmente não divido a musica em estilos. O indispensável talvez pra mim seja isso: som sincero, verdadeiro. E isso também é muito relativo e aberto a todas as possíveis interpretações.

Obrigado pelas perguntas e o interesse. Pessoal, sejam legais uns com os outros, o mundo pode implodir a qualquer momento. Façam o que vocês querem do jeito que vocês acreditam, porque a gente não sabe quando essa brincadeira vai acabar, e é sempre mais legal sair pela porta da frente e não a dos fundos.

Beijos.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário